Tenta imaginar o seguinte caso: uma pessoa lhe despreza, te humilha, chega a te rotular com as palavras mais pejorativas que você pode imaginar. Daí, um certo dia lá na frente, depois que o mundo já deu suas voltas (graças por isso), e essa pessoa, a mesma que fez e desfez de você, se vê numa sinuca de bico e só você quem pode ajudá-la a sair daquela situação. Imaginou? Então vamos à crônica de hoje!
Durante meus quatro anos de curso (bacharel em ciências contábeis, e me perdoem por estar exaltando essa ciência, eu a amo mesmo!), passei muitos perrengues por lá. Num certo período, me mudei pra mesma cidade em que se situava a faculdade. Comecei a trabalhar em dois empregos (tipo o Julios, o pai do Cris, kkkkkk), pra tentar me manter lá, pagar aluguel, água, energia... enfim, aquelas coisas todas que universitário de classe baixa passa.
Como eu não tinha grana pra comprar um fogão, eu pedi permissão pra almoçar de segunda a sexta feira na cozinha situada na escola agrícola, que funcionava no mesmo espaço da facul. Depois de um certo período que eu estava lá fiz amizades boas e ruins. As fofocas a meu respeito começaram. Até dou motivos, porquê sou uma pessoa que não passa desapercebido em lugar algum. Inventaram horrores comigo e com as outras meninas que trabalhavam lá. Confesso que passei por isso a minha vida inteira, mas, eu sempre ficava ruim, não por mim, mas, pelas meninas que também entravam naquela dança chata do “disse que me disse”.
Bem, vou repetir: O MUNDO DÁ VOLTAS (GRAÇAS POR ISSO)!
Hoje (06/08/2017) recolhi uns quinhentos livros, revistas, gibis pra biblioteca super precária daquela escola que tanto me desprezou. As mesmas pessoas que me chutaram da cozinha daquela escola, essas mesmas me viram chegar, durante todo o dia, com caixas e mais caixas de livros praqueles pequenos e pequenas que não tem culpa da transfobia daqueles adultos. Tenho raiva? Não! Tenho ódio? Também não!
No decorrer dos meus trinta e quatro anos já passei por muita coisa, boas e ruins. Aprendi, desaprendi, construí e derrubei muita coisa aqui dentro ó, no peito e na mente. Tive a oportunidade de mostrar pra eles que não se deve nunca julgar o caráter de alguém por sua identidade de gênero ou sua orientação sexual. Isso me bastou. Chega um tempo na vida que a gente aprende que ninguém nos decepciona, nós que colocamos expectativa demais sobre as pessoas. Cada um é o que é e oferece aquilo que tem para oferecer.
Tive a oportunidade de ser bom ou ruim para aquelas pessoas. Ofereci o que eu tive.
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Belo depoimento !